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Mostrando postagens de 2009

Colheita

Quando se perde a fala, se cala. Cale-se. No suor da mão que brota, não sobra, molha. E na corda brinca solta, não gira, corta Como o punhado de flores que trouxe pra dizer sem as palavras que é bom sua mão comigo.

Avelã e jasmins

Avelã e jasmins. Não sei porque, vieram-me à cabeça essas palavras e suas coisas. Avelã, uma palavra que soa bonito, como se transformasse a voz num tapete de veludo... a-ve-lã, a sensação de hálito fresco, dentes limpos um sorriso liberto e olhos que chamuscam. Um retrato de felicidade, estampado numa face que poderia ser a minha. E seu cheiro faz do jasmim o toque sedoso da pele que ama, curvas suaves desenham-se no ar e a fragrância vai enebriando a todos que dela sentem o cheiro. O olor do jasmim, passeando lindamente por um por de Sol bonito, pintado por uma criança e as pessoas passeiam pela calçada sentindo a brisa vinda do mar e o cheiro suave vindo dos jasmins cultivados com cuidado e ternura no fundo do coração de quem ama. E espero que chegue logo essa fragrância e esse retrato. E que ele faça-se espelho para mostrar a quem de direito como viver de um jeito pra ser feliz.

A queda do Titã

Cair pelas próprias fraquezas tem a benesse de se achar que pode melhorar para não mais acontecer, mas cair por um golpe alheio deixa um estado de espírito amargurado, cinza. Sentir o fio no punhal encravado nas costas pela mão que te ajudou nos piores momentos é desfalecer o coração e a alma, a visão fica opaca sobre o que foi e o que será. Às vezes, é melhor que os ouvidos ouçam as verdades que doerão, do que deixá-los no vácuo de um silêncio mentiroso, pois, quando o uivar das mentiras chega à fresta do conhecimento, vira um tufão avassaladore impiedoso para qualquer tentativa de manter a mente sã. Vou percorrendo os labirintos dessa vida, sem saber se há mesmo um final ( ou uma saída). E algumas armadilhas neles escondidas fazem a perna fraquejar e a dúvida em querer continuar resvala a cabeça, como um encontrão à luz do dia. Queria dizer que sento saudade do tempo em que tudo era mais simples e viver parecia ser fácil. Mas não vou. Não é verdade. Reconfortar-se sob a colcha per

O que é viver?

Vou vivendo uma vida que às vezes nem parece minha. Vou vivendo um amontoado de horas que vão se transformando em dias Sem um retrato para me lembrar. Ora estou dentro do mundo, ora o mundo anda fora de mim e tento apelar para os números que não me mostram porque a coisa anda assim. Mas que danada essa coceira, amor de nunca saciar a sede de coçar, quando acho que cocei o tanto, vem ela noutro canto pra me fazer continuar. Que vida é essa que eu tenho? Os amigos ficam longe e culpo sempre o tempo, é o trabalho, é o estudo e o sono tudo junto e misturado em contratempo. De-me a boca de beijar, de-me o jeito de gozar a vida de outro jeito porque desse não vai dar.

Nos embalos de Lou Reed

Just a perfect day, Drink Sangria in the park, And then later, when it gets dark, We go home. Ao som de uma música calma, a melhor trilha sonora que pode ter, vejo a estrada e, ao meu lado, vejo um sorriso cintilante, e olhos castanhos que me fazem imergir num mundo novo e bom, como aqueles sonhos que se tem quando criança. Just a perfect day, Problems all left alone, Weekenders on our own. It's such fun. Acaricio suas pernas e aperto sua mão, sinto na minha pele a seda de que é feita a sua e tenho mais certeza de que dessa seda não quero mais largar. Sua voz amortece o silêncio e vibra em meus ouvidos como uma canção antiga que fala de amor. Just a perfect day, You made me forget myself. I thought I was someone else, Someone good. E eu olho para o Céu e pergunto a Deus se mereço a felicidade de ter um amor como o que tenho, de ser feliz como sou com essa mulher que me abraça e se enrosca em mim pedindo um carinho que achei que nunca teria e nunca seria capaz de dar. E Deus me res

Maria

Estive correndo à solta pelo mundo descobri novos caminhos, alguns turvos, e vi o Sol se pôr diversas vezes para me ver acordar no outro dia. Como no dia em que vi Maria, menina simples de nome e alma queria ser bailarina e trapezista, e ajudar no aluguel da casa. Maria que vendia doces no farol, olhos verdes e flamejantes, os homens, além da bala e dos corantes queriam leva-la ao lençol. E com dezessete, Maria cedeu. E voltou torta pra casa, trancou-se no quarto pos-se a chorar e a tremer e a soluçar e não mais querer aquele corpo sujo que tinha que alimentar. Mas tirou da pequena bolsa a nota, o dinheiro lhe subiu cheiro na cabeça "cheiro bom de coisa nova". No outro dia, a mesma esquina. O cabelo pintado, a unha pintada, o céu pintado de preto e seus olhos percorrendo os vidros dos carros, seus ouvidos acostumados ao bizarro. "Sou puta e sou assim", abafava o pensamento com os cigarros, deixava o pigarro enroscar a garganta pra cuspir n

A matilha insana

A matilha está a solta pelas ruas das cidades, passam velozmente pela necessidade de vencer sempre o relógio e abrem mão, muitas vezes, da condição humana que possuem de pensar. Hoje em dia, dentro de um carro, é preciso olhar e olhar novamente no espelho retrovisor antes de mudar de faixa, pois como mágicos de um circo falido, eles surgem com seus motores rasgados e suas buzinas estridentes. Acham-se sempre no direito de transitar livremente pela via, como se os carros que servem de paredes para eles, não pudessem interferir em seus trajetos . Se um espelho estiver atrapalhando , simples: arranque-o com o pé em riste; se atravessarem seu caminho, ameace! Como uma família que priva pelo bem-estar de cada membro, unem-se e defendem-se, mesmo sem razão aparente. O trânsito é caótico e provoca ebulições na cabeça de quem está ali, a atenção esvai-se a cada minuto parado, vendo o relógio correr e as motos passarem. Eu, como motorista não tenho raiva deles por saber que chegariam muito m

Folha em branco

Ter uma folha em branco em frente aos olhos é como jogar-se num abismo que não se pode enxergar o fundo... talvez eu não devesse usar esta comparação para me expressar visto que nunca me atirei num abismo em que não pudesse ver o fundo. Mas, independente disso, jogamo-nos todos os dias e todas as horas em abismos de fundo desconhecido. E, embora desconhecido, imaginamos sempre algo bom a nos aguardar no fim da jornada abismal. Como naquele filme: " O Segredo do Abismo", em que os cientistas acabam por descobrir uma nova civilização e todas aquelas cores e aqueles seres lânguidos, esguios e serenos, com andar suave. Queremos encontrar nos nossos pequenos abismos esses movimentos, esses sentimentos, um desprendimento daquilo que nos consome diariamente, queremos abafar a queimação da azia e sufocar o som da buzina dos carros desesperados. E somos também esses carros desesperados, nunca estive tão certo de que somos iguais uns aos outros, nas alegrias, nas tristezas, nas força

sem título

As cinzas espalhadas no chão anunciam duas coisas: um passado ferido, que fez o fogo arder e consumir algo que ali existia e um futuro de esperança, pois, a terra que recebe as cinzas se fortifica e se torna fértil. Porque a Natureza das coisas faz com que nunca seja o fim definitivo para as coisas e para os destinos. Houve dor, uma dor tão intensa que não será nunca esquecida. Como a cicatriz na pele que deixa seu registro de que ali houve uma perda, que deve ser transformada em ganho. Mas isso não ameniza a dor que fica latente dentro do coração de quem sofreu. Sentir essa dor é mais do que uma expiação, o medo fica rondando, feito bicho feroz que ronda no escuro a vítima desprevinida. Não sei bem o que quero dizer, esse é o tipo de coisa que acontece quando há muito na cabeça e no coração, pensar e sentir intensamente causam essas coisas. Essas coisas essenciais para se viver e tentar ser feliz.

Azaléia

Azaléia poderia ser uma flor, como uma das flores que adornavam um canteiro na casa minha avó. Mas Azaléia era o nome de uma moça que limpava algumas casas no condomínio em que morei quando pequeno, dentre elas a minha. Lembro-me de Azaléia sempre sorrindo um sorriso amarelo dos cigarros que fumava na rua, em frente à casa em que estivesse trabalhando. Entre um cômodo limpo e outro, ia Azaléia fumar seu cigarro. Sorria e cantava, usava o cabo de vassoura como microfone e na cantava em bom tom as músicas que tocavam na rádio. Se fossem em inglês, apenas dublava. Dizia que tinha até medo de falar as coisas que os gringos estavam cantando, mesmo sem ter idéia do que estivessem dizendo. Era era bem branca, com o cabelo crespo bem apertado e amarrado que davam num rabo de cavalo minúsculo. Falava de um jeito engraçado, desafinava a voz a cada cinco palavras, pensava sempre numa corneta desafinada quando a ouvia falar, principalmente quando estava brava com alguma coisa. E como falava aqu

Acreditar é preciso

Tem vezes que eu fico pensando um pouco na Vida e nas coisas que nela acontecem, aí dá vontade de escrever alguma coisa. No final das contas, ou do texto, fica parecendo algo "auto-ajuda". Pensando bem, isso não deve ser de todo mal. Dizem que os livros, receitas e crendices da auto-ajuda são artimanhas da ganhar dinheiro baseadas em filosofias baratas que qualquer bêbado de butiquim pode concluir. Formas de se dizer que se tudo está uma merda, é possível reverter. Só depende de você, ou melhor, do seu pensamento. Pensar, acreditar e receber. Sim, eu também li " O Segredo", e a Rhonda Byrne deve estar feliz da vida por isso, sentada confortavelmente em seu castelo na Escócia. Ela deve ter pensado e acreditado: recebeu. Confesso que quando li " O Segredo", entrei num processo de reaver minha forma de pensar e, por conseguinte, de agir. Pensar e ação, devem funcionar de forma harmoniosa... embora pareça algo lógico o que acabei de escrever, pode não ser t

Morfema +1

Uma homenagem ao meu cumpadre e minha comadre Num tempo longínquo, surgiu da mente fértil de dois estudantes um morfema. Esse morfema ganhou vida. Braços, pernas e, principalmente, coração. Todo coração que fora desde o nascimento, o morfema cantava as alegrias e tristezas da vida. O amor e todos os outros sentimentos que permeiam-no. Porque o amor é incompleto e busca seu complemento nos outros sentimentos. Amor-ciúme, amor-inveja, amor-tristeza. Por isso, o Amor é o sentimento mais completo de todos. Podemos fazer tudo na Vida sem ciúme, ódio ou inveja. Mas, sem amor, nunca concretizaremos nada, ficará tudo sempre no esboço mal desenhado, na perda de tempo. E tanto amor já não cabia mais em apenas um morfema, que era zero ainda por cima. E foi se aproximando uma outra, que olhava aquele morfema e seus sorrisos e seu jeito de brincar e de entender (ou desentender) das coisas da Vida e, muito mais, do Amor. E o morfema também foi se aproximando e o calor de um pro outro acalentava e

Réquiem mineiro

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A estrada sólida, pálida, imutável e os carros que por ela transitam - frios - não podem enxergar que há muito mais do que o simples percurso que um é e que o outro faz. Entre o ponto de partida e o ponto de chegada há o destino repleto de adjetivos variados. Belo é um deles. E essa beleza toda que é pintada diariamente em frente a nossas retinas não comove, fica cinza depois que cruza os nervos pétreos de quem pisa nos aceleradores dos carros frios que cruzam as estradas pálidas. Talvez não tenha sido essa a vontade de Deus quando criou o Homem, mas o Homem recria a si próprio como um próprio Deus e essas criações não possuem responsáveis. Talvez Deus tenha nos criado para contemplar o azul do céu e os raios alaranjados que por ele cruzam quando o Sol vai se pondo e sorrir francamente pela simplicidade das coisas e talvez tenhamos sido criados para saber que a simplicidade é bonita e que vale a pena acreditar no irmão e fazer com ele também se sinta melhor e mais feliz por estar sim

Uma canção Zeppeliana

Para ler ao som de Since I´ve been loving you O Amor só chega se fizer o coração sangrar e, quando parte, faz o músculo secar. Minhas mãos calejadas, das horas e horas de trabalho, meus olhos que ardem, meus pé que doem, a roupa suja e o suor na testa. Esperava mais do que tenho, rezo todos os dias por isso. Minha menina que chegou na Primavera trouxe um cesto de flores e um sorriso peguei-a no colo, levei para casa deixei as flores sobre a mesa e tentei ser feliz. O Amor quando chega, faz o coração tremer, o cansaço do trabalho nem pesava mais, saber da minha menina e sua pele macia me fazia esquecer que havia bombas no mundo. Doía, como doía sair de casa e deixa-lá dormindo, eu dava para ela todos os desejos realizados. Eu trabalhava, as mãos calejadas e um sorriso no rosto. Mas as falta me traiu, não pela saudade que sentiu. Naquela tarde chuvosa, minha lágrimas molharam mais. Minha menina e um outro que fugiu a luz apagada, os lençóis no chão e sentia explodir os

Concurseiros

Nos tempos de crise de vivemos - aliás, esta crise é tão longa que já parece ter virado um estado de espírito -, com as incertezas econômicas e a sede gananciosa das corporações, somado à mecanização de tudo o que uma pessoa poderia fazer, o emprego no setor privado é uma incerteza constante. Hoje você acorda cedo, toma banho e café e vai para o trabalho; amanhã, você pode fazer essas mesmas coisas, mas, ao invés de pegar a fila para bater o ponto, vai para a fila na porta das agências de empregos à procura de um milagre. É por isso que o governo tem sido a vedete do emprego, tornar-se um funcionário público virou, antes de mais nada, uma garantia. Garantia de que todo o dia você vai para o mesmo lugar cinzento, olhar para as mesmas pessoas chatas e, no fim do mês, ter assegurado o dinheiro que lhe dará a oportunidade de fazer coisas que te façam esquecer dos lugares cinzentos e das pessoas chatas. Mamar na teta do governo, isso sim é o que o povo gosta, e, quem chega a conseguir, de

E agora: José!

Leio poesia e permaneço anônimo entre as cores do jardim, olhos que me cruzam, olhos que se cruzam e desejos desfeitos partem seguindo o rastro do perfume que me deixou. Concentrado na leitura, calado por trás dos óculos de armação escura, toco minha mão como quem toca um desconhecido, as unhas cortadas rentes à carne,incomoda tocar as coisas com as pontas dos dedos, a palma é áspera. Essas mãos que carregam um peso que parecem não lhe pertence,ou não deveriam. Vem depois o ato de levantar-se do banco, deixar o colorido anônimo do jardim e cruzar ruas e andar por calçadas tortas e esburacadas, tropeçar nos mendigos que pedem e olhar para um céu que chora. Mesmo assim, é bonito esse azul, todas as coisas deveriam ser azúis, todas as cores deveriam ser o azul. Despeço-me do anonimato e cruzo pelo corredor estreito de caras amarradas do trabalho, chego em meu cubículo e me afundo nos papéis que não são meus. Percebo, então, nada é meu. Não são meus os papéis, a caneta, a calculadora, o c

Desnecessários - uma história besta

Era primavera do primeiro ano em que morava só. Tinha dado o passo definitivo para a liberdade e o desespero. Nada havia apara preencher os espaços que lhe arrebatavam os olhos, fatava dinheiro para os móveis e já vendera todo o tíquete alimentação do mês para pagar o aluguel. Passava o dia arrotando sanduíche de mortadela. Numa noite quente daquelas, abriu a janela e olhou para cima: um céu de Lua Nova e uma mulher trambém olhando pela janela, e para a Lua. Ela voltou-se, olhando para ele, não sabia se sorria, era escuro e podia não fazer diferença. Voltou a cabeça para dentro, feito tartaruga em seu casco. Naquela noite, sonhou os sonhos de infância. Corria por um campo aberto que tinha uma grama tão verde que parecia falsa, sentia o cheiro fresco do matinho depois do orvalho. Subia um morro e, chegando ao topo, do outro lado, um grande lago de água mansa repousava. Desceu correndo a segunda parte do morro, zunia em seus ouvidos o vento, fechou os olhos e estendeu os braços como

Na ausência de som

Ele não tinha nada a falar, seus olhos lhe bastavam. Havia também o medo, as palavras soltas no ar não voltam para a garganta e o que elas podem causar, só uma revolução pode dizer. Negava assim sua condição existencial e primária: ser humano inserido entre outros humanos numa sociedade e, a partir daí, fazer-se capaz de algo que quisesse a partir do diálogo. Os olhos lhe bastavam e ele estava bastante acostumado a olhar. Há tempos já fazia assim, olhava-a de um jeito que imaginava ninguém perceber, muito menos ela. Olhava a pele branca e tenra - imaginava -, os lábios finos, quase pálidos. Não tinha o hábito de maquilagens. Como um anjo vindo do Céu para povoar suas idéias e ilusões, ele a dislumbra e vislumbra um futuro de beijos e abraços. Ele não tinha a falar e, nessas horas, ele cantava. E a música que ele mais gostava, por ironia do destino era: Eu não sei dizer Nada por dizer Então eu escuto Se você disser Tudo o que quiser Então eu escuto Fala lá, lá, lá, lá, lá, lá. lá,

Words

Tear drops fall from the sky into my face and I can´t cry. Beauty, beauty. A beautiful beast stares me, there isn´t afraid in the dark. The dark can be warm and comfortable. I´ve been walking with losts souls trying to find my own, But a can´t find it, not outside the mirror. Daughters, mothers, fathers, they´re all running around themselves, like a mad dog chasing it own tail they waste their lives, putting on nails. Crazy words, crazy thoughts, I´ve been reading a diary if a mad man, there a saw my past and some futures. What is to come, I don´t know, but while I´m with you, nothing else matters.

Um gosto azul

As nuvens pintadas em tons de cinza iam acinzentando também a cidade, os postes, as ruas e os rostos das pessoas que começavam a acelerar o passo para escapar da chuva que se formava. A moça que lê as notícias do tempo no telejornal estava certa desta vez. Eu a ouvi falando de pancada de chuva forte à tarde ainda pela manhã, enquanto tomava um pingado e comia um pão com manteiga na chapa no boteco, antes de entrar no trabalho. Bebia o pingado e mastigava o pedaço quente de pão como se respirasse o ar: automaticamente. A sensação que tinha era de estar suspenso, já havia sentido assim várias vezes, este estado de suspensão, como se minhas pernas não pudessem me suportar e, então, eu flutuava, segurado por umas mãos ou outras forças que vinham de cima. Talvez fios muito finos e transparentes de nylon, tal qual aqueles que seguram os bonecos de pano ou de madeira, manipulados por um homem de cabeça grande e mãos habilidosas. Não sei se estava suspenso e manipulado, sei dessa sensação que

Ao mestre, com carinho

Certas coisas ocorrem e não estamos preparados para que ocorram, vagam dentro da cabeça tentando encontrar um lugar lá dentro para se acomodar, mas não se acomodam assim, de uma hora para outra, leva tempo até que os sentidos e os sentimentos se acostumem com a idéia. Se é que realmente se acostumam. Na difícil tarefa de nos comunicar melhor um com o outro, ele era mestre e nós, discípulos. Se havia rigidez no conteúdo é porque não estava para brincadeira e, seu amor pelo que fazia, dava o tom de seriedade no que ensinava. Eu não percebera essa devoção para conosco, como, muitas vezes, percebemos tardiamente o que estava diante de nós durante tanto tempo. Nosso convívio resumia-se há poucas horas semanais, mas eu sei, o que acontecia durante aquele tempo é algo para se carregar para sempre desde que aquelas horas fossem vividas de cor, de um coração para outros. Fomos alunos e ele o professor, mas em outros momentos também pudemos ser colegas e companheiros de profissão. Dimar de De

Réquiem para um amigo

Queria cantar alguma letra das tantas músicas que sabíamos de cor, fazer com que a melodia amenizasse o que passa aqui por dentro. Lembrar e cantar uma canção que um dia te fez sorrir ou outra que te fez pensar. Queria parar o mundo por um segundo e poder te parar também, queria que os anos voltassem e que os tempos pudessem ser outros, queria não fazer parte do que fiz, queria te xingar uma vez mais e receber um xingamento em troca como sinal claro e simples de uma grande amizade. Quantos dias que passamos perambulando pela vida buscando encontrar a verdade inexistente na adolescencia, os segredos velados, os desejos contidos,um mundo inteiro estava à nossa frente e não sabíamos por onde começar a viver, então, vivíamos. Que falta me fez você, mesmo quando ao meu lado, com seu olhar vidrado e distante, sonhando com uma Lua dourada, um astronauta sem nave, vagando pelo espaço. Tentei extender minha mão, mas ela era pouca para o que acontecia dentro de ti. Agora, longe, nem um aceno

Abandono

Não se preocupe se eu não olhar para trás quando me despedir, minhas partidas são prenuncios das chegadas, não importa quanto tempo fará, se continuar aqui, eu também estarei. Pode me faltar a palavra adequada para acalentar o choro da minha ausência mas não faltará a mão e o abraço mudo para aquecer o corpo cansado de esperar. Quando estou longe, não estou em lugar algum meu lugar pertencido é o seu lado, seus olhos. Vou porque preciso e você precisa ficar Se está aqui, na espera; estou lá, na espera. Minha partida, sua chegada, nossos encontros sem ritmo, sem compasso, sem roteiro. Improvisos soprados pelo coração é que nos mantém Vivos. Um no outro. Até quando? Amanhã saberemos, quando cruzarmos os olhos no primeiro raio da manhã.

Quero ser um passarinho

Eu quero ser um passarinho - Tal como dissera Quintana para desaperceber quem atrapalha meu caminho. Quero a leveza do passarinho e tocar-lhe suave com minha pena, dar-lhe meu carinho. Quero a ignorância do passarinho e voar pelo simples fato de poder, quero ficar equilibrado sobre um alambrado vendo as coisas que passam sem eu saber. A sua fragilidade, quero tudo, quero seu bico. Esmiuçar o alimento antes de levá-lo ao ninho. Quero ser um passarinho simplesmente um passarinho e ser um passarinho e pensar um passarinho e tentar...

In - possível

Quando a vontade é muita, e deixa-se tanto tempo entre uma coisa e outra, na volta fica meio enferrujado o jeito de fazer, parecendo impossível alcançar a perfeição que parecia estar na ponta dos dedos e que fugiu, soprado por um vento curto que vem de sabe-se lá onde e vai pra pra sabe-se lá porque. Esse jeito quieto e manso arrebata no peito como uma onda, uma ressaca. E por dentro os peixinhos nadam livre no mar cristalino perto de uma praia que não visitei. É um sonho, uma primavera e um verão. É um bando de sorriso transeunte, passageiro, coisas boas e coloridas. Coisas de quem vive sem saber o melhor momento da Vida. Nessa imensidão de pensamento, voo eu, voa meu amor e voam as pétalas que soltamos de nossas mãos dadas. Queria ter a certeza de que isso tudo é vivo, para poder dizer, no fundo dos meus olhos: Eu vivo do melhor jeito possível!

O seu verde e eu

Tenho sonhos recorrentes e, deles, o que mais me lembro é você. Queria dizer isso pra você, ao vivo, olhos nos olhos, embaixo de um teto , cercado de quatro paredes. Poderia ser até nas celas de uma prisão. Valeria a pena e a coragem desperdiçada, valeria tudo para dizer essa frase em seus olhos e gostaria em troca apenas de vê-los umidecendo , formando uma redoma transparente que embaçasse o verde de seus olhos, ficariam ainda mais brilhantes, radiariam, emanariam uma luz inexplicável. Esta luz atravessaria o ar para atingir em cheio meu peito e eu me sentiria livre. Ficaria livre de todas as formas e todos os nomes que me prendem, me livraria deste corpo que me impede e dessa consciência que me suja com o suor do medo e a lama da fraqueza. Poderia assim, sem medo, tocar sua pele com as pontas dos dedos, seus dedos, seus braços, seu pescoço, seu rosto... poderia, enfim, encontrar-me dentro de você. Porque você é meu destino. E chegar até você é alcançar o meu motivo de comer, de b

2009

Começaremos bem! Com a idealização de que o que ainda não aconteceu de bom acontecerá agora e a certeza de que o ruim que passou serve como lição e nada mais. Faremos três promessas novas e manteremos as antigas - até que, enfim, sejamos capazes de atendê-las. A começar pelos vícios, largaremos os vícios que há tempos nos incomodam e, ao mesmo tempo, nos fascinam! Deus, como podem mexer assim com nossa cabeça? Coordenar com tamanha frieza nossos movimentos e ditar, inclusive, um futuro incerto nosso: para 2010 largarei o vício, o pior vício de todos os que tenho, esse vício de me comprometer a coisas que não farei com a virada de ano. Mas não é motivo de alarde, isso nos ronda há mais tempo que podemos imaginar, não é sinal de fraqueza chegar ao fim do novo ano percebendo que daquelas promessas feitas no início, nenhuma ou quase nenhuma foi cumprida. Longe de ser vergonhoso, esse é o sinal claro de que somos seres humanos trajados de boas intenções e esperança. É, então, pela esperança