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Mostrando postagens de julho, 2008

Dançando com o diabo

Eu estava quieto, na minha, como de costume. Olhava de canto para as pessoas que passavam aqui e ali, o som era muito alto e via-se muito pouco com as luzes estróbicas , cintilantes, coloridas, todos os tipos de luzes que não iluminam nada. Encostei no balcão do bar, mas não pedi nada para beber. O bartender me olhou de um jeito que parecia misto de piedade e raiva, eu pensei que ele pudesse estar pensando: coitado do cara, um monte de gatinha dando sopa e nenhuma dando bola, fica aí com essa cara de bunda . Mas também deve ser um sujeito bem mole porque comigo não ia ser assim, eu parto pra luta e não me canso de ouvir não. Com o outro sempre é sempre diferente e comigo sempre igual. É isso? Mas não estava triste de estar ali, sozinho, quieto, na minha. Era assim que eu queria. Olhando apenas, o movimento, as pessoas, as luzes dore - cabeceantes . Foi quando cometi o erro de olhar para a porta recém aberta. Seus olhos e os meus se fixaram. A partir dali, como uma pequena mald

Sr. Paulo Soares, um pai.

Se pudesse responder à pergunta: "Você tem orgulho do seu pai?", o menino João Roberto certamente diria que sim, que tem. Mas ele não poderá responder. Calaram a voz desse menino com tiros covardemente disparado, praticamente à queima-roupa, sob o apelo da mãe clamando para que parassem com aquilo. Imagino que tudo tenha sido rápido demais, confuso demais. Absurdo demais. Estes mesmos tiros que calaram uma voz fizeram ressoar outra, a de um pai indignado com a trágica ação promovida por funcionários públicos despreparados. Infelizmente, vemos constantemente nos jornais casos de homicídios onde as vítimas eram crianças ainda. Crianças! Um garoto, uma garota que ainda não sabem ler e escrever, mortos por jovens e adultos marginais, alguns deles que também não sabem ler e escrever, mas sabem que com uma arma na mão poderão ter o dinheiro que querem. Mas, de todos os pais e mães que vi, o sr. Paulo Soares foi o que mais me admirou. Sua voz, desde esta tragédia, tem sido uma bra

Boa sorte

Faltava pouco para a chegada, uns dois dias. Nesses dias, ele não conseguia dormir direito, comer direito, pensar direito, viver direito. Se é que algum dia soube viver direito. Ocupava o tempo percorrendo o pequeno corredor do apartamento, indo até o mercado ver os mesmos produtos e não levar nenhum. Tinha parado de fumar, mas abrira um exceção, quase dois maços por dia. Isso lhe rendeu um tosse seca, rascante que tentava amenizar tomando muita água. Com bebidas tinha parado, isso era definitivo. "Esperar é uma droga não viciante", pensava. Impaciente, como um bom ariano, folheava o jornal que era entregue pela manhã, religiosamente, em apartamento. O incomum é que recebia aquele jornal há mais de um ano e nunca fez pedido de assinatura, nunca nenhum vizinho o interpelou reclamando seu jornal roubado, nem alguém de telemarketing ligou para oferecer ou cobrar a assinatura. Havia coisas assim que aconteciam com ele, coisas que eram boas do jeito que se pensa: "porque i