A queda do Titã

Cair pelas próprias fraquezas tem a benesse de se achar que pode melhorar para não mais acontecer, mas cair por um golpe alheio deixa um estado de espírito amargurado, cinza. Sentir o fio no punhal encravado nas costas pela mão que te ajudou nos piores momentos é desfalecer o coração e a alma, a visão fica opaca sobre o que foi e o que será.
Às vezes, é melhor que os ouvidos ouçam as verdades que doerão, do que deixá-los no vácuo de um silêncio mentiroso, pois, quando o uivar das mentiras chega à fresta do conhecimento, vira um tufão avassaladore impiedoso para qualquer tentativa de manter a mente sã.
Vou percorrendo os labirintos dessa vida, sem saber se há mesmo um final ( ou uma saída). E algumas armadilhas neles escondidas fazem a perna fraquejar e a dúvida em querer continuar resvala a cabeça, como um encontrão à luz do dia.
Queria dizer que sento saudade do tempo em que tudo era mais simples e viver parecia ser fácil. Mas não vou. Não é verdade. Reconfortar-se sob a colcha perfumada e aconchegante dos pensamentos infantis não me tornarão mais forte hoje. Hoje eu não acredito mais em todo sorriso que recebo, nem distribuo sorrisos a quem desconheço. Desconfiar é a arma de se viver. A desconfiança se alimenta do medo. O medo de estar só, o medo de perder, o medo de ser esquecido.
Quando um Titã cai, atinge a muitos que dele dependiam e nele acreditavam. A queda de um Titã é a queda de muitos homens e mulheres que nele depositavam toda a esperança de um dia serem como ele. Gigante, inatingível. Mas esse semi-deus mostra sua face mais desumana e distancia cada vez mais nosso coração dos livros de mitologia.

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