Na ausência de som

Ele não tinha nada a falar, seus olhos lhe bastavam. Havia também o medo, as palavras soltas no ar não voltam para a garganta e o que elas podem causar, só uma revolução pode dizer.
Negava assim sua condição existencial e primária: ser humano inserido entre outros humanos numa sociedade e, a partir daí, fazer-se capaz de algo que quisesse a partir do diálogo.
Os olhos lhe bastavam e ele estava bastante acostumado a olhar. Há tempos já fazia assim, olhava-a de um jeito que imaginava ninguém perceber, muito menos ela. Olhava a pele branca e tenra - imaginava -, os lábios finos, quase pálidos. Não tinha o hábito de maquilagens.
Como um anjo vindo do Céu para povoar suas idéias e ilusões, ele a dislumbra e vislumbra um futuro de beijos e abraços.

Ele não tinha a falar e, nessas horas, ele cantava. E a música que ele mais gostava, por ironia do destino era:

Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então eu escuto
Se você disser
Tudo o que quiser
Então eu escuto
Fala
lá, lá, lá, lá, lá, lá. lá, lá, lá
Fala
Se eu não entender
Não vou responder
Então eu escuto
Eu só vou falar
Na hora de falar
Então eu escuto
Fala
lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Fala

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