Maria

Estive correndo à solta pelo mundo
descobri novos caminhos, alguns turvos,
e vi o Sol se pôr diversas vezes
para me ver acordar no outro dia.

Como no dia em que vi Maria,
menina simples de nome e alma
queria ser bailarina e trapezista,
e ajudar no aluguel da casa.

Maria que vendia doces no farol,
olhos verdes e flamejantes,
os homens, além da bala e dos corantes
queriam leva-la ao lençol.

E com dezessete, Maria cedeu.
E voltou torta pra casa, trancou-se no quarto
pos-se a chorar e a tremer e a soluçar
e não mais querer aquele corpo sujo
que tinha que alimentar.

Mas tirou da pequena bolsa a nota,
o dinheiro lhe subiu cheiro na cabeça
"cheiro bom de coisa nova".
No outro dia, a mesma esquina.

O cabelo pintado, a unha pintada,
o céu pintado de preto e seus olhos
percorrendo os vidros dos carros,
seus ouvidos acostumados ao bizarro.

"Sou puta e sou assim",
abafava o pensamento com os cigarros,
deixava o pigarro enroscar a garganta
pra cuspir na cara da criança
que quer descobir a vida numa mulher de programa.

Maria, mulher de programa e também puta
e também sonhadora, filha, trapezista e bailarina.
Maria, ninguém te disse isso ainda,
mas merece o aplauso por saber viver a vida.

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