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Mostrando postagens de maio, 2009

Concurseiros

Nos tempos de crise de vivemos - aliás, esta crise é tão longa que já parece ter virado um estado de espírito -, com as incertezas econômicas e a sede gananciosa das corporações, somado à mecanização de tudo o que uma pessoa poderia fazer, o emprego no setor privado é uma incerteza constante. Hoje você acorda cedo, toma banho e café e vai para o trabalho; amanhã, você pode fazer essas mesmas coisas, mas, ao invés de pegar a fila para bater o ponto, vai para a fila na porta das agências de empregos à procura de um milagre. É por isso que o governo tem sido a vedete do emprego, tornar-se um funcionário público virou, antes de mais nada, uma garantia. Garantia de que todo o dia você vai para o mesmo lugar cinzento, olhar para as mesmas pessoas chatas e, no fim do mês, ter assegurado o dinheiro que lhe dará a oportunidade de fazer coisas que te façam esquecer dos lugares cinzentos e das pessoas chatas. Mamar na teta do governo, isso sim é o que o povo gosta, e, quem chega a conseguir, de

E agora: José!

Leio poesia e permaneço anônimo entre as cores do jardim, olhos que me cruzam, olhos que se cruzam e desejos desfeitos partem seguindo o rastro do perfume que me deixou. Concentrado na leitura, calado por trás dos óculos de armação escura, toco minha mão como quem toca um desconhecido, as unhas cortadas rentes à carne,incomoda tocar as coisas com as pontas dos dedos, a palma é áspera. Essas mãos que carregam um peso que parecem não lhe pertence,ou não deveriam. Vem depois o ato de levantar-se do banco, deixar o colorido anônimo do jardim e cruzar ruas e andar por calçadas tortas e esburacadas, tropeçar nos mendigos que pedem e olhar para um céu que chora. Mesmo assim, é bonito esse azul, todas as coisas deveriam ser azúis, todas as cores deveriam ser o azul. Despeço-me do anonimato e cruzo pelo corredor estreito de caras amarradas do trabalho, chego em meu cubículo e me afundo nos papéis que não são meus. Percebo, então, nada é meu. Não são meus os papéis, a caneta, a calculadora, o c

Desnecessários - uma história besta

Era primavera do primeiro ano em que morava só. Tinha dado o passo definitivo para a liberdade e o desespero. Nada havia apara preencher os espaços que lhe arrebatavam os olhos, fatava dinheiro para os móveis e já vendera todo o tíquete alimentação do mês para pagar o aluguel. Passava o dia arrotando sanduíche de mortadela. Numa noite quente daquelas, abriu a janela e olhou para cima: um céu de Lua Nova e uma mulher trambém olhando pela janela, e para a Lua. Ela voltou-se, olhando para ele, não sabia se sorria, era escuro e podia não fazer diferença. Voltou a cabeça para dentro, feito tartaruga em seu casco. Naquela noite, sonhou os sonhos de infância. Corria por um campo aberto que tinha uma grama tão verde que parecia falsa, sentia o cheiro fresco do matinho depois do orvalho. Subia um morro e, chegando ao topo, do outro lado, um grande lago de água mansa repousava. Desceu correndo a segunda parte do morro, zunia em seus ouvidos o vento, fechou os olhos e estendeu os braços como