Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2008

Agosto

Como toda família tem sua avelha negra, nesta não seria diferente. O filho desprezado surge pelo horizonte e causa arrepios naqueles que acreditam em sua sina. A de ser mal. Agosto é o mês, o filho, indesejado. O do cachorro louco, quando coisas ruins estão fadadas a acontecer, como se houvesse anunciação para a graça ou para a desgraça. Augusto é meu nome e, não sei se por obra do acaso ou do divino, também sou uma espécie de ovelha negra,um indesejado. Claro que não creio nessas coisas, não nasci para atrapalhar ninguém,embora teimem em me forçar a acreditar nisso. Sou o mais novo de quatro irmãos. Dizem que tudo mudou depois que nasci, filho temporão, as entranhas já envelhecidas de minha mãe não puderam suportar a dor de me parir e ela morreu no mesmo instante em que nasci. Queria tê-la conhecido, queria ao menos que ela tivesse a oportunidade de olhar em meus olhos que nem abertos estavam e, entre a gritaria dos médicos para salvá-la e a minha própria gritaria de recém-nasci

Best seller

Começarei agora. Vou escrever a primeira palavra da primeira frase de um best-seller. Não imediatamente agora, pois, sendo um best-seller, necessita de grande cuidado ao ser gerado, e mesmo se não fosse um best-seller seria necessário o mesmo cuidado, afinal, um livro é um filho e, dizem, um filho que é gerado por um ato de real amor e prazer será um belo fruto. Então, sendo livro um filho, deve- se atenção ao ato que vem antes de sua concepção. Deve- se observar a amante que chega na alcova e sorrir-lhe, dizer-lhe coisas agradáveis, afagar- lhe, tocar- lhe o pescoço, a nuca, deixá-la à vontade, a ponto dela ficar com os movimentos mais lentos, lânguidos e doces. Este é o momento em que me encontro: as preliminares. Sentado em frente ao computador eu vejo uma página em branco, que logo será preenchida, mas antes de começar é preciso tornar o ambiente agradável e impenetrável: baixo um pouco o som, cerro as cortinas, descalço os sapatos, verifico se a garrafa d' água e

O cultural e a Bienal

Imagem
Hoje fui à Bienal do Livro, em São Paulo, a minha primeira - uma vergonha pra quem gosta tanto de ler e escrever. E quase perco desta vez também, hoje foi o último dia. Estava ansioso para ir, imaginei que lá fosse a Meca dos devoradores de livros com muita informação, lançamentos, altos papos literários e, é claro, descontos. Mas o que vi foi uma grande feira de livros acontecendo dentro de um pavilhão enorme, cheio de gente de todos os tipos e nada mais. Preços? Pagaria bem menos em qualquer livro indo até a praça João Mendes ou qualquer outro reduto de Sebos. Isso foi uma decepção pra mim. No auge da minha inocência, pensei que um evento como esses serviria para estimular a leitura e criar cada vez mais novos leitores em nossa cidade, em nosso país. E, num país como o nosso, este estímulo começa a partir da maior acessibilidade aos livros. Não adianta a criança ou o jovem ter um grande professor em sala de aula, com a capacidade de instigar nele o desejo pela leitura se na hora H,

Duas rodas em São Paulo

Venho percebendo um crescente assalto de duas rodas no trânsito paulistano. Não estou me referindo às motocicletas, essas dominaram há muito o trânsito. Falo das bicicletas. Imagine, numa cidade de mais de dez milhões de habitantes, frota média de 5 milhões de veículos e tantas outras motocicletas e agora vem as bicicletas. A primeira coisa que passa pela minha cabeça quando penso em alguém indo trabalhar, indo estudar ou indo pra qualquer outro lugar dentro de São Paulo com uma bicicleta é: coragem. O cara tem que ter muita coragem de enfrentar os motoristas predadores dentro de seus carros-leões e ônibus -mamutes. Loucura é outra palavra que me surge com facilidade também. Numa bicicleta a pessoa está completamente exposta, muito mais do que um pedestre pois esse ainda tem a calçada para transitar, embora algumas calçadas estejam tão desfiguradas que é preciso andar na rua mesmo. Na bicicleta, o louco-corajoso tem que dividir espaço com os motores de 100 cilindradas, 1000 cilindr

Tchau, tchau.

É besta, eu sei. Mas tem sido algo que tem me irritado, ou melhor, antes de irritar, me intriga. Muitas coisas passam pela cabeça quando presencio isto. Há a irritação, a intrigação , a dúvida. Um tanto de coisas que passam pela minha cabeça quando ouço alguém dizer: tchau , tchau . Eu disse que era besta, mas é algo que vem me chamando cada vez mais atenção. Comecei a perceber esse fenômeno na empresa em que trabalho, as pessoas atendem o telefone, falam coisas e no final: tchau , tchau . A primeira vez que ouvi talvez até tenha achado interessante, uma despedida jovial, descontraída mas, com o passar do tempo e eu ali, falando com as pessoas ao telefone e o tchau , tchau de despedida foi me causando um sufocamento. E a coisa vem de todos os lados, sem discriminação de idade ou cargo. Acho que até o presidente da empresa deve finalizar suas conversas ao telefone com um tchau , tchau . Engraçado é que essa despedida só acontece ao telefone, nunca pessoalmente. No cara a cara é o nor