Concurseiros

Nos tempos de crise de vivemos - aliás, esta crise é tão longa que já parece ter virado um estado de espírito -, com as incertezas econômicas e a sede gananciosa das corporações, somado à mecanização de tudo o que uma pessoa poderia fazer, o emprego no setor privado é uma incerteza constante. Hoje você acorda cedo, toma banho e café e vai para o trabalho; amanhã, você pode fazer essas mesmas coisas, mas, ao invés de pegar a fila para bater o ponto, vai para a fila na porta das agências de empregos à procura de um milagre.
É por isso que o governo tem sido a vedete do emprego, tornar-se um funcionário público virou, antes de mais nada, uma garantia. Garantia de que todo o dia você vai para o mesmo lugar cinzento, olhar para as mesmas pessoas chatas e, no fim do mês, ter assegurado o dinheiro que lhe dará a oportunidade de fazer coisas que te façam esquecer dos lugares cinzentos e das pessoas chatas.
Mamar na teta do governo, isso sim é o que o povo gosta, e, quem chega a conseguir, deixa de ser povo. Veja os políticos. São funcionários públicos também, mas a estabilidade deles dura apenas um mandato... não, não é bem assim...mesmo aqueles que não conseguiram se reeleger ainda mamam descaradamente na teta farta em leite do governo. Leitinho que sai suado do bolso do trabalhador que está lá, na fila do ponto ou na fila do milagre. Você e eu.
Esqueçamos, por agora, dos políticos. Dou lugar agora a esta classe cada vez mais em destaque dentro de um segmento social que não ata nem desata: o concurseiro.
Eles são pessoas especializadas em concursos, com certeza já fizeram mais concursos do que você imagina. Feito uma rede de comunicação paranormal, trocam informações e confabulam teorias de qual será o próximo concurso. Fazem análises demoradas e precisas de quando ocorreu o último concurso, qual o prazo de validade, quando devem abrir outro, qual a empresa examinadora. Isso e mais uma infinidade de dados que são levantados e discutidos.
Depois vem a fase do estudo, que não é uma fase, é um modo de viver. Estudam durante quatro anos para um concurso que pode nem mesmo ocorrer. Mas isso nã é problema, afinal, concurso é quase tudo igual e as matérias que caem são as mesmas, muda-se apenas a ordem das perguntas.
Então, depois de paga a inscrição, depois de analisar a relação de candidatos por vagas, depois de perder horas de sono sonhando com o carguinho público, depois de passar quatro horas com as mãos suarentas, pensando e repensando se a alternativa "b" ou "e" está correta....vem o gabarito! É o momento de prazer e desprazer definitivo. Momento de tensão extrema, analisa-se cuidadosamente as respostas e chega-se, sempre, à conclusão que a prova foi mal formulada.
Vamos então aos recursos.
Recurso é a etapa em que aqueles que elaboraram a prova dão a oportunidade do candidato pensar que seu erro é um acerto. Isso é praxe, por isso em todo concurso cabe recurso, faz parte do jogo.

A penúltima etapa é a da lista final e ver o seu nome entre os classificados - e tem que ser numa boa colocação, senão baubau - é uma explosão de alegria incontida que dura uma semana, um mês, dois meses... aí surge a pergunta: "quando vão me chamar?" Fórum de Internet são criados para saber quem já foi convocado, quando, porque...tudo, tudo...e esperar é preciso, ser funcionário público não é preciso.
Admiro esse pessoal, a vontade deles tem que ser muito grande para fazer isso tudo por um emprego, ou melhor, por um pedacinho do bico da teta...

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