O artista

Cada pessoa tem ou quer ter uma profissão. Às vezes, temos a sorte de desempenhar a mesma profissão que acreditamos querer, outras vezes, desempanhamos aquela que dará retorno financeiro. Encolhem os ombros para os chefes e escondem-se atrás de pilhas de papéis praticamente inúteis, o coração vai pesando e pesando, mesmo sem se perceber. O contador e o instrutor de motoristas olham pela janela do escritório e do carro, vislumbram uma vida sonhada e sentem pesar pelo presente vivido.
Quem nunca se sentiu assim? Vivendo uma vida que julga não ser a escolhida? Acho que a maioria. E, por trás destes olhos secos e das bocas amargas, escondem-se paraísos, verdadeiros oásis, refúgios adornados de perfeição. Onde se é o que se quer. A mente brinca por um instante e passamos a sonhar.
Nesses sonhos, em que somos o que queremos, somos todos artistas. Pintamos nosso sorriso, versamos nossas paixões, cantamos nosso júbilo. Vivemos plenos e em harmonia com tudo o que há em volta.
Esses oásis podem deixar de ser apenas miragens ou fruto da imaginação, o que difere o sonho da realidade são os olhos abertos. Abertos e aptos a enxergar à frente para saber-se o caminho a ser trilhado até encontrar o palco que nos espera. E este palco pode até mesmo ser um picadeiro, e a vocação pode ser a de palhaço, o artista dos artistas. Aquele que faz brilhar um Sol em cada face, mesmo que esteja chovendo dentro de si.
Há muito tempo atrás, escrevi um poema que tinha em seu conteúdo os seguintes versos: "Participamos de um teatro/ a areia é o palco/ a Lua a iluminação/ Somos as estrelas desse teatro/ onde não se entra um elemento são". Estou crendo que fazia sentido esse meu pensar adolescente. Todos somos artistas diante da vida, mas deixamos nossa arte de lado porque acreditamos que a realidade é dura, penosa e somente através de suor e sangue poderemos alcançar o objetivo. Como se fosse pecado viver de maneira mais solta e gentil com nós mesmos.