Novembro

Novembro chegou do jeito que costuma chegar: um feriado de Finados no dia 2 e chuva. Chegou Novembro como um frio na barriga pré-Natal, o penúltimo mês que poderia muito bem ser o último, já que Dezembro nunca é levado a sério.
Mês de dizer que o ano já passou, que faltou isso, sobrou aquilo, quem-me-dera-o-ano-fosse... teimamos em dizer que o ano nunca foi, que o dia nunca foi, que a vida nunca é. Às vezes, parece até que algumas pessoas vivem um ano de eternos Novembros, meses subsequentes de desejos não-realizados (pior, não-idealizados), de espera por um porvir que será assim, azul, como o mar que me faltou no ano. O frio na barriga, véspera de Dezembro, nunca passa. Porque Novembro nunca passa.
Novembro... Novembro. A República da Banana se proclamou -e até hoje tenta saber o que é isso -, surgiu agora a Consciência Negra para ser celebrada no dia 20, ao menos em São Paulo. Mas não acho que criar um dia para a Consciência Negra seja uma prioridade, não acho que um feriado fará a diferença nas diferenças raciais. Quando o branquinho e o pretinho estiverem pegando Sol na praia, aproveitando o feriado, não estarão pensando em consciências negras, brancas, pardas. Acho que toda consciência deveria ser incolor, só mesmo na transparência para as coisas se revelarem. Mas é só um achismo meu.
E a chuva, aquela que lava, que alaga, que alegra... essa vem, sempre vem, vai lavar esse país de mais um ano que se acaba com toda sua sujeira por cima e por baixo dos panos; a chuva que alaga a casa dos desesperados que acabaram de jogar o lixo na rua e entupiram a boca-de-lobo. A chuva que alegra a criança que brinca no barro da sua cidade distante, depois do dia de aula.
Novembro chegou. E partirá. Partirá sempre. O que fica serão as lembranças que teremos pra contar pros outros deste mês que é tão mês quanto os outros, mas só ele é Novembro.

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