Defi - Ciente

Tão velha quanto a pergunta: "Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?", deve ser aquela: "Quem sou?". Os sábios gregos já tentaram explanar o tema e dissertaram através de variados pontos de vista. E suas conclusões foram tão coerentes que tornaram-se basalares para as teorias científicas vindas depois, como as teorias psicológicas.
O fato é que nós, enquanto seres pensantes, não podemos viver com a angústia de não nos definirmos. É necessário nos qualificarmos ou rotularmos, inclusive para que possamos conviver com outros como nós. Isso é inerente de nós, é a constituição básica do viver socialmente. Sem enquadramo-nos numa determinada classe ou grupo ficaríamos isolados. E isso ninguém quer.
Esse enquadramento pode ocorrer por diversos fatores: afinidades políticas, religiosas, sociais, musicais, culturais, esportivas etc. Somos o que gostamos, o que não gostamos e o que pensamos. Agora, eu coloco outra coisa: somos como somos. Digo isso porque eu nunca precisei pensar: "Eu ando, eu sou normal". Ser assim, "normal", não me caracterizava como pertencente a um grupo, o grupo era o dos deficientes físicos, a minoria.
Hoje vejo que eu pertencia sim ao grupo dos não-deficientes físicos. E agora? Bem, alguns dizem que sou deficiente físico, outros dizem que um deficiente físico não andaria. Eu ando. Aí, os médicos debruçam-se sobre os compêndios de Medicina e tentam decifrar quem sou eu. Vou sendo classificado a partir de um Código Internacional de Doenças, mas a contradição os faz quebrar a cabeça: como ser paraplégico se anda? Seria um milagre de Jesus de Nazaré?! Como será que taxaram aquele aleijado da Bíblia curado por Jesus, após o milagre? " Olha lá, é o ex-aleijado".
E essa "classificação" não é tão simples quanto ser são-paulino ou flamenguista. Há aqui um conjunto de outros fatores que influenciarão toda minha vida daqui pra frente: se eu prestar um concurso público, terá que ser como deficiente ou não? E procurar emprego no setor privado. Vaga pra deficiente ou não? Será que poderei estacionar o carro na vaga azul pra deficientes e depois descer do carro e ir caminhando alegremente ao mercado sem peso na consciência?
Os médicos vão tentando me decifrar e eu também. É como se tivesse nascido de novo, mas com 26 anos e o barco já estivesse correndo a todo vapor. Preciso correr atrás do tempo perdido e descobrir quem sou.
O que me alenta é saber que independente de quem eu descobrir ser, serei uma pessoa muito agradável e feliz.

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