Adelaide
Adelaide era uma moça, mas poderia muito bem ser um passarinho, tal a leveza com que andava pelas ruas, quase a flutuar levada pelas brisas amenas do ontem e do hoje.
Tinha os cabelos castanhos claros e encaracolados e um rosto de pele tão alva e sedosa que poderia ser uma pintura feita por um artista do século XVIII, mas Adelaide não era pintura, nem era passarinho. Ela costumava encostar-se naquela esquina ali, onde tem a barraca de cachorro-quente agora, sentava-se naquela mureta e aguardava quem alguém lhe oferecesse serviço.
Nunca soube dirigir, mas havia passeado em muito carros e gostava de todos, fossem os novos com cheiro de novos, fossem os velhos com cheiro de ferrugem. Olhava para todos os cantos dos carros, os estofados, o teto, o velocímetro. Quem conhecia um pouco mais de Adelaide dizia que não passava de uma menina e, como toda menina, tinha nos olhos a vontade incessante de descobrir.
Sua beleza era simples e exata, os traços finos e os movimentos sincronizados, parecia programada para ser singela em tudo. Inclusive na voz. Por isso, era tão procurada, muitos haviam dito a ela da diferença dela para as outras mulheres, muitos convites recebeu para deixar de lado aquela esquina e viver uma vida digna ao lado do pretendente. Recusou a todos.
Depois de fazer seu trabalho noturno, Adelaide chegava cansada em sua casa e nunca deixava de dar um beijo na testa da mãe e colocar o dinheiro recebido na gaveta da cômoda, sabia que a mãe precisava mais que ela daquele dinheiro que conseguia. Depois, tomava um banho e ia dormir. Acordava quatro horas depois para fazer os deveres da casa enquanto a mãe vestia-se pomposamente e saía para divertir-se nos bingos.
Noite passada, Adelaide não beijou a testa da mãe, não depositou o dinheiro, não voltou para casa. Um carro todo escuro pegou-a na esquina e não quis mais desvencilhar-se dela. Adelaide disse, com sua voz suave, que não queria daquele jeito e pediu que a deixasse ali, em qualquer lugar. Mas ela não foi obedecida, aquela mãe grande e áspera começou a apertar com força a tenra pele de seu pescoço, sua pele alva tomou tons arroxeados, sufocada, não pôde dizer palavra. Seu corpo afroxou-se.
Leve, como sempre fora, foi voar, tal qual um passarinho.
Tinha os cabelos castanhos claros e encaracolados e um rosto de pele tão alva e sedosa que poderia ser uma pintura feita por um artista do século XVIII, mas Adelaide não era pintura, nem era passarinho. Ela costumava encostar-se naquela esquina ali, onde tem a barraca de cachorro-quente agora, sentava-se naquela mureta e aguardava quem alguém lhe oferecesse serviço.
Nunca soube dirigir, mas havia passeado em muito carros e gostava de todos, fossem os novos com cheiro de novos, fossem os velhos com cheiro de ferrugem. Olhava para todos os cantos dos carros, os estofados, o teto, o velocímetro. Quem conhecia um pouco mais de Adelaide dizia que não passava de uma menina e, como toda menina, tinha nos olhos a vontade incessante de descobrir.
Sua beleza era simples e exata, os traços finos e os movimentos sincronizados, parecia programada para ser singela em tudo. Inclusive na voz. Por isso, era tão procurada, muitos haviam dito a ela da diferença dela para as outras mulheres, muitos convites recebeu para deixar de lado aquela esquina e viver uma vida digna ao lado do pretendente. Recusou a todos.
Depois de fazer seu trabalho noturno, Adelaide chegava cansada em sua casa e nunca deixava de dar um beijo na testa da mãe e colocar o dinheiro recebido na gaveta da cômoda, sabia que a mãe precisava mais que ela daquele dinheiro que conseguia. Depois, tomava um banho e ia dormir. Acordava quatro horas depois para fazer os deveres da casa enquanto a mãe vestia-se pomposamente e saía para divertir-se nos bingos.
Noite passada, Adelaide não beijou a testa da mãe, não depositou o dinheiro, não voltou para casa. Um carro todo escuro pegou-a na esquina e não quis mais desvencilhar-se dela. Adelaide disse, com sua voz suave, que não queria daquele jeito e pediu que a deixasse ali, em qualquer lugar. Mas ela não foi obedecida, aquela mãe grande e áspera começou a apertar com força a tenra pele de seu pescoço, sua pele alva tomou tons arroxeados, sufocada, não pôde dizer palavra. Seu corpo afroxou-se.
Leve, como sempre fora, foi voar, tal qual um passarinho.
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