O dinheiro de plástico


Ano: 2007
Século: XXI

E eu não uso cartão de crédito. Não uso, porque ter, todo banco faz questão que você tenha. O motivo eu não sei. A praticidade? A comodidade? Os juros exorbitantes? Vai entender... Assim como muitas pessoas não entendem como eu não uso um cartão de crédito. E digo, na minha cabeça de homem do século passado, esse utensílio, esse "dinheiro" é problema.
Hoje eu tive mais uma prova da minha filosofia: acordei tranquilamente, fui até a cozinha e recebo uma carta da minha mãe. Abro a carta e me deparo com uma fatura de cartão do banco "Completo". Revoltado e confuso, vi que me cobravam uma taxa administrativa no pífio valor de R$ 6,45. Pífio, porém indevido. Afinal, porque devo pagar por algo que não utilizei, pior, algo que sequer pedi. Sim, recebi o tal cartão uns 2 meses atrás mas, como homem do século passado, nem dei bola. Cheguei a pedir pra minha mãe jogar fora o cartão e pra mim ali, dois meses atrás, estava resolvida a situação. Não estava.
Decidido a resolver a situação o quanto antes, tomei um banho, almocei e rumei para a agência bancária afim de por um ponto final na história, tendo que desfazer todos os planos que tinha feito para o dia na noite anterior. É, acontece... mas não gosto de ter de mudar de planos repentinamente, ainda mais para fazer algo que não quero.
No banco, disse o que aconteceu para o funcionário que perguntou espantado: "mas o senhor não quer mesmo o cartão?"... eu disse, mais uma vez, "não, não quero". O homem foi até o gerente, cochichou algo que imagino ter sido: "Sr... aquele cliente recebeu um cartão de crédito, mas não desbloqueou e recebeu fatura....e ele não quer utilizar o cartão". Espanto! Soa uma sirene na agência, uma placa com uma seta despenca do teto e aponta para mim, no alto-falante, uma voz estridente e mecânica: Este cliente negou o cartão de crédito, negou a possibilidade de parcelamento de comprar sem juros, negou a possibilidade de efetuar saques nos momentos de aperto, negou a segurança de não precisar andar com dinheiro na carteira. NEGOU!!!
A agitação levou menos de um minuto, aí o funcionário voltou, perguntou novamente se eu não queria mesmo o cartão. O homem de Neanderthal confirmou: não. E foi dado o decreto, seria feito o estorno do valor retirado indevidamente da minha conta e aquele pedaço de plástico seria destruído. Tudo feito como se fosse normal ser enviado um produto não solicitado e o mesmo ser cobrado.
Sim, deve ser normal mesmo. O encanto do cartão de crédito deve fascinar muitos, afinal, é poder, é status. E os alegres correntistas vão e desbloqueiam seus cartões, compram em muitas parcelas e pagam apenas o mínimo. No fim das contas, o encanto acaba e o que sobra são as faturas amontoadas sobre a mesa e um nome sujo estampado nas listas do Serasa. Trágico, não é? Talvez eu esteja exagerando... mas não exija muito de mim, um simplório homem do século passado.

Comentários

Edu disse…
Esse homem do século retrasado diz para o homem do século passado...

Mano, que foda....

Parabéns...

E morte aos porcos capitalistas!

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