Lembrança, Nostalgia, Saudade

Não é de hoje que somos bombardeados com a seguinte mensagem: "Viva o presente!". Talvez esta filosofia de vida deva ter se difundido com maior grandeza nos lisérgicos anos 60. E não digo lisérgicos apenas pensando nos hippies norte-americanos, a década de sessenta foi libertária e revolucionária em todo o mundo, mesmo nos países que sofreram com regimes autoritaristas militares, como o Brasil. Ou você acha que em plena ditadura militar não havia os loucos escondidos atrás de suas aparentes normalidades? Isso sempre teve e sempre terá. E quanto mais proibido melhor. Mas não é sobre isso o que quero falar.
Estava dizendo sobre viver o presente, coisa, ou filosofia, que eu acho da maior importância, afinal, é no presente que estamos. Não adianta projetar milhares de coisas para um futuro que pode não vir, pior ainda é enterrar os pés na planície segura do passado. Segura sim, pois já passou e não há nada a se fazer, e no passado não há "perigo" de uma surpresa desagradável acontecer.
Também não podemos dar as costas ao que passou, foram as experiências passadas que moldaram a pessoa que somos hoje, isso é tão verdadeiro quanto óbvio. Então, de que forma tratar dessa parte de nós, o passado? Quantas coisas que surgem na cabeça, lembranças, que fazem-nos torcer o nariz, querer ter feito diferente ou sequer ter feito? E quantas outras vezes não ficamos paralisados no tempo, por um instante, lembrando de uma cena vivida, de um acontecimento absurdamente bom e de tão bom tornou-se inesquecível, mesmo após tantos anos? Sim, é inevitável e é bom, é olhando também para nosso passado que podemos saber o que somos hoje e melhor projetar o que poderemos fazer mais pra frente.
Às vezes, esta volta ao passado dura muito mais que um instante e ocorre muito mais do que em um ou outro momento. Dizem que quem vive no passado é um nostálgico. Aquele que diz: ah, mas no meu tempo a música era bem melhor. Só não entendo uma coisa: "no meu tempo?". Não tem essa de "no meu tempo", o seu tempo é o tempo em que se está vivo, é que algumas pessoas mais velhas confundem as coisas, acham que apenas durante a juventude é que podem ocorrer novidades e descobertas na vida. Espero ficar mais velho e fazer o oposto disso.
Passado, lembrança, nostalgia... palavras diferente mas que convivem num mesmo ambiente, assim como a Saudade. A saudade será sempre um sentimento do passado, o desejo de ter por perto algo (ou alguém) que não se tem mais. Diria Chico Buarque: " Saudade é arrumar o quarto de um filho que já morreu."
Menos trágica que essa metáfora, imagino a saudade como um sentimento meio azulado, um azul acinzentado, como fumaça de cigarro, um sentimento que divide ao meio. De um lado, o sorriso de saber que era bom e do outro, a tristeza de saber que não está mais ali. Um sorriso e uma lágrima. Saudade é o sentimento dos opostos. Talvez seja até maior que lembranças, nostalgias e maior até que o próprio passado. Pois o que nos é saudoso queremos ter no presente, romper as barreiras do tempo.
Saudade é a ilusão de querer pra sempre o que não lhe pertence mais.

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