O hábito

Ele tinha o hábito de sair do trabalho e seguir pelo mesmo caminho até sua casa, morava há pouco tempo na cidade, não sabia se aquele era o caminho mais curto. Era o único que conhecia e isto lhe bastava.
Dia destes, numa quinta-feira, talvez o mais banal dos dias da semana, ele saiu do trabalho, olhou para o céu que ainda estava azul de verão, viu o caminho que o esperava e resolveu mudar. Atravessou a rua. Na terceira esquina que cruzava viu uma padaria, parecia limpa, parecia vazia, olhou para o céu de novo - tinha o hábito de olhar para o céu - e entrou.
Pediu um refrigerante de laranja, sentou-se ao balcão e passou a ver a tv ligada, num suporte aéreo. Um pouco afastado dele estava um velho meio sujo, ao perceber que era visto o velho abriu um sorriso banguela que foi respondido por um aceno sem graça de cabeça. Virou o rosto para o outro lado, a fim de evitar que o velho tentasse puxar assunto. Topou com um par de olhos castanhos bem abertos. Assustou-se. A moça pediu desculpa, disse que não queria assustar, só queria lhe perguntar as horas. ele respondeu que não tinha relógio, mas viu um relógio de parede escondido atrás de uma pilha de engradados de cerveja, esticou o pescoço e respondeu: Seis e meia.
A moça lhe sorriu e disse: "A esta hora já era para você estar em casa." Ele não sabia como, mas era verdade.
O velho riu sozinho, o atendente limpou o balcão e a moça não desgrudava seus olhos castanhos de seus olhos castanhos. Ele a convidou a sentar e dividir outro refrigerante, ela disse que preferia cerveja. Ele não gostava de tomar cerveja durante a semana, mas aceitou. Mudar uns hábitos, às vezes, faz bem.

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