Os bichos


Os bichos estavam soltos. Numa manada iam tomando o espaço pelo qual passavam, grupos diversos num mesmo corpo, numa mesma manada.
Desavisados, minha namorada e eu tomamos a rua no sentido contrário ao fluxo, eles vinham de todas as direções, rindo alto,
intimidadores. Alguns mais selvagens incomodavam a quem passasse na rua e não fizesse parte deles. Cruzamos a rua e o mar de gente vinham também de lá. Paramos num ponto e pegamos um ônibus.
Descendo em sua casa, continuava aquilo, como se a cidade tivesse sido tomada de outros seres. Não pelos indivíduos, mas pelo coletivo. Sei que nenhum, ou raros, daqueles fariam tais coisas se estivessem sós. Carros policias subiam e desciam a avenida, alguns imitiavam o som da sinal ao passar da viatura. Riam, sempre riam.
Deixei minha namorada em seu prédio e ela disse para eu entrar no prédio e esperar que o movimento acalmasse, mas o macho-caçador negou aquela delicadeza e pensou: "Se quiserem tirar alguma coisa minha vão ter que suar." E fui-me. Cheguei em casa. Pensando na manada, nos rostos sem fim, nos gritos, nas arruaças, no feriado que tinha passado.
Ah, e fiz também um programa familiar, fui ao Zoológico. Estava muito bom por lá.
Estava cheio de gente.

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