Caçador de mim
A primeira vez que vi Blade Runner foi na tv e eu não tinha mais que treze anos, de alguma forma o filme me impressionou, mas nunca mais consegui assistí-lo. Vinha, então, há tempos, procurando este excelente filme "sci-fi" que já se transformou num cult. Tanto é cult que é impossível de se achar, sempre fora do catálogo. E consegui! Graças à Internet. Depois de revê-lo, continuei não entendendo porque ele me casou tanto impacto da primeira vez, mas sei porque ele causa-me impacto agora.
Esqueça os cenários futurísticos, os carros voadores, os animais artificiais. O filme trata de algo que poderia ser um história da década de 20 ou de séculos antes de Cristo: a existência humana e sua condição.
Porém, esta condição é tratada pelo lado dos Replicantes, andróides evoluídos que adquiriram a capacidade de sentir e isto faz com que eles corram atrás do tempo para descobrirerm uma forma de viverem por mais tempo, pois foram criados para "durarem" 4 anos.
Além desta agonia existencial, para mim, o que mais me marca no filme é a relação que acontece entre Deckard, o tal caçador de andróides ( Harrison Ford) e Rachel (Sean Young), uma Replicante que não sabe que é andróide até que Deckard aparece em sua vida. A partir daí há uma troca de sentimentos velados entre os dois, uma relação que atinge o amor em sua plenitude: romantismo, desavença, jogo de poder, sexualidade. Mas tratados de uma maneira ímpar, impossível de não emocionar.
Revendo o filme, e este jogo amoroso que acontece entre os personagens acima, é impossível não se jogar aquela situação para a vida real. O quanto se ama? O quanto se quer ter aquela pessoa amada? A que preço? Do que se abre mão? Questionamentos que fiz para mim mesmo, tendo sempre na cabeça a mulher que amo e percebendo que nas relações criam-se pequenas rachaduras - as tristezas, as incompreensões, os desentendimentos, as vaidades - e estas rachaduras podem fazer desmoronar a mais firme rocha, o mais concreto sentimento.
No final, Deckard e Rachel fogem juntos e ele sabe que ela tem 4 anos de vida e sobre isto um dos personagens diz: " É uma pena que ela não vá viver... mas, afinal, quem vai?"
Ninguém viverá eternamente. Uma vez li, não sei onde, que toda história de amor terminar do mesmo jeito, ou o mocinho perde a mocinha, ou o contrário. Isto também é verdade.
O importante é o que aconteceu entre o início e o fim, qual a cumplicidade que existiu, o quanto um se doou ao outro, o quanto um permitiu ao outro invadir um espaço que deixa de ser o "meu" para ser o "nosso". É tão bonito pensar e dizer estas coisas, tanto quanto é difícil fazer estas coisas. E é justamente nestas coisas difíceis que o amor se fortalece e rachadura alguma faz com que o sentimento se desmorone.
Eu venho tentando, errando muito e achando que acerto aqui e ali, mas quem deve saber disto mais do que eu é quem recebe o sentimento de amor que dou. Não é, Tha?
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