Série: Livros da minha vida - O Alquimista




 Decidi criar uma série de postagens para falar mais sobre minha vida através da literatura. Livros que marcaram minha vida, não necessariamente os melhores livros que já li, mas aqueles que me marcaram de alguma forma e qual a história por trás disso. Pode ser até que instigue a leitura do livro para alguém.
 Para começar essa série, nada melhor que falar de um livro que me incitou a criar o hábito da leitura, porque ler, em algum momento escolar, sempre fomos e seremos obrigados, mas esse livro transmutou em mim a obrigação em prazer. E esse livro foi O Alquimista, de Paulo Coelho.
 Esse bestseller mundial, detentor de recordes em Guinness Book, traduzido para dezenas de línguas e indicação de leitura por uma porção de gente notória mundo afora, é também visto com muita ressalva dentro de circuitos mais "acadêmicos" ou "letrados",seja pela construção um tanto pobre, do ponto de vista literário, ou mesmo pela própria criação literária, tendo em vista que a história narrada é muitas vezes vista como um compilado de histórias folclóricas ou adaptação de histórias já contadas.
 Mas não é isso o que me importa. O Alquimista transformou-se em meu hall de entrada para o mundo literário justamente por me proporcionar leveza e conteúdo ao ler. Eu tinha uns 17 ou 18 anos e a imaginação não era tão efusiva quanto em minha infância (eu sempre me julguei bastante imaginativo, criava histórias mentais sobre ser um agente secreto ou super-herói). Fato é que a partir de uns 12 anos, aquela imaginação deu lugar para outra, a imaginação que tem um pé na realidade, vamos chamar de traumas da vida. Passei a imaginar como seria estar no grupo dos populares da turma, ser o melhor nos esportes, namorar a menina mais bonita da sala. As armas ultramodernas e o quarto que se transformava em sala secreta ficaram para trás.
 O Alquimista me lembrou que havia aquele outro tipo de imaginação. Caminhar com Santiago pelos mercados de rua, ultrapassar deserto, enfrentar desafios, buscar um objetivo que fora instigado por um sonho e desejo de realização, acendeu em mim uma fogueira que estava instinta: viajar por sonhos, devaneios e, de alguma forma, encontrar suas realizações, que chegam ao terminar a última página do livro. Não, não apenas isso.
 Acender novamente a centelha da criação, perceber que não era só do lado da leitura que eu poderia estar, mas também do lado da criação. Ler um um livro escrito de forma simples, com palavras do cotidiano, até com erros gramaticais aqui e ali, fizeram-me ver a criação literária como algo humano, falho e também bonito, inspirador. Eu também poderia fazer isso.
 De repente, eu tinha terminado esse e partido para outro livro, porque tudo começava a fluir e eu a fruir da leveza de se ler sem um compromisso de saber a história para responder questões de literatura e obter nota para passar de ano, como havia sido minha experiência com livros até então. O Alquimista me deu o prazer pela leitura.
 Lembro-me que o livro peguei emprestado da mãe de um amigo e, assim que terminei, pedi mais uns 2 emprestados, ainda Paulo Coelho - literatura fácil e agradável. Os outros livros não me impactaram tanto, mas serviram para pavimentar ainda mais o caminho sem volta.
 Depois...bom, o depois é um tempo que se estica até o presente e que posso enxergar no futuro também. Outros livros, outras histórias, outros desejos. Passei a criar minhas próprias histórias e buscar outros livros, conhecimentos... Um Universo havia se aberto.
 Engraçado, depois daquela fase nunca mais li Paulo Coelho, não por assumir a visão pedante daqueles que ainda o tratam como literatura "menor". Talvez os interesses tenham mudado, não sei. 
 Se mudaram foi porque um dia começaram e esse marco inicial ninguém poderá tirar o crédito de Paulo Coelho e seu Alquimista.


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