Série: Livros da minha vida - Noite na taverna


  Se Paulo Coelho foi responsável por fazer da leitura um caminho sem volta para mim, Álvares de Azevedo começou a alicerçar meu desejo de escrever.
Quando li Noite na Taverna pela primeira vez eu devia ter acabado de chegar à adolescência. Foi um livro obrigatório na escola. Eu não detestava ler e isso basta dizer sobre minha relação com a leitura até então.
  Quando criança, eu passei pela coleção Vaga-lume (os com trinta e poucos sabem do que estou falando...O escaravelho do diabo, As aventuras de Xisto...). Eram livros legais, com aventuras, mistério, tudo pra cativar pequenos leitores. Como disse, eu passei pela coleção e só. Nada excepcional para mim. Na escola em que estudava, na quinta ou sexta série, eles passavam uma lista de uns 6 livros por ano. Eu era CDF (ainda se fala isso?), então lia todos.
  Mas no oitavo ano, aprendi sobre a segunda geração do Romantismo no Brasil, a geração Mal do Século, lembram? E um dos primeiros livros para leitura foi Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo. O cara morreu com 20 anos, como a maioria dos escritores dessa geração, o mencionado Mal do Século era a tuberculose, que pela vida de boemia que essa galera gostava de viver, acabou levando-os cedo demais. No caso de Azevedo há controvérsia sobre a causa da morte, mas morreu cedo como seus contemporâneos.
Enfim, Noite na Taverna tem 7 capítulos, é uma coletânea de contos com temas góticos, soturnos, histórias de suspense, amor, sexo e morte. Uau! Era o que minha adolescência queria! Meus olhos brilharam e eu devorei o livro umas 3 vezes antes da prova. Resultado: tirei um incapaz 6,5 de nota e adquiri um desejo forte de escrever. Foi o primeiro livro de contos que me recordo ter lido (não considerava histórias da Carochinha como contos e não sei se deveria) e o fato de perceber que havia a possibilidade de escrever histórias curtas tão poderosas quanto um extenso romance me animou a escrever. Ainda mais com temas soturnos, sexo, mistério, duelos...encontrei ali um lugar para me aninhar.
 Eu já tinha uma inclinação à escrita, cheguei a ficar em segundo lugar num concurso de redação da escola, com uma concorrência de umas 300 crianças, mas eu tinha preguiça de escrever. Se o mínimo de linhas eram 15, eu escrevia 15, se eram 20, eu sofria pra esticar as 20, mas as notas eram geralmente boas.
 Álvares de Azevedo com seus vapores e cognacs me deram alívio de saber que eu poderia escrever uma história de 2 ou 3 páginas e seria uma história completa: começo, meio e fim. E aí, eu comecei...escrevia até na borda dos livros da escola e colocava uma anotação " continua na página 30" e seguia pra pagina 30 e pulava pra 45 e terminava na 72. Hoje eu penso, por que não pegava uma folha de papel pra escrever o diabo da história? Temperos da literatura...
 E esse texto que deveria ser curto não ficou. Espero que tenha qualidade ao menos.
 Convido-os para um copo de cognac e ler as histórias de Gennaro, Bertram, Solfieri e outros. Na fria taverna ou no aconchego do lar.



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