Sr. Paulo Soares, um pai.

Se pudesse responder à pergunta: "Você tem orgulho do seu pai?", o menino João Roberto certamente diria que sim, que tem. Mas ele não poderá responder. Calaram a voz desse menino com tiros covardemente disparado, praticamente à queima-roupa, sob o apelo da mãe clamando para que parassem com aquilo. Imagino que tudo tenha sido rápido demais, confuso demais. Absurdo demais.
Estes mesmos tiros que calaram uma voz fizeram ressoar outra, a de um pai indignado com a trágica ação promovida por funcionários públicos despreparados. Infelizmente, vemos constantemente nos jornais casos de homicídios onde as vítimas eram crianças ainda. Crianças! Um garoto, uma garota que ainda não sabem ler e escrever, mortos por jovens e adultos marginais, alguns deles que também não sabem ler e escrever, mas sabem que com uma arma na mão poderão ter o dinheiro que querem. Mas, de todos os pais e mães que vi, o sr. Paulo Soares foi o que mais me admirou. Sua voz, desde esta tragédia, tem sido uma brado vigoroso contra a atrocidade que lhe ocorreu. E, quando ele fala em todos os veículos de comunicação que ele não será o único a pagar por isso, percebe-se em seu olhar uma dor da qual nenhum de nós quer passar. E ele, que até um dia antes do ocorrido, poderia ser um como nós: assistindo ao jornal, vendo a notícia de mais um inocente vítima de um confronto do qual ele não faz parte.
O que muitos não percebem é isso: Todos os pais e mães são um "sr. Paulo" em potencial. Ninguém está imune de ser atingido por essa guerrilha urbana, que não acontece apenas no Rio de Janeiro, lá pode estar deflagrado o caos, mas que está em todos os lugares.
O choro e a indignação daquele pai não é para com os policiais que atiraram no carro de sua esposa, quem matou o menino não foram aqueles homens fardados. Eles foram apenas o corpo que executou, os responsáveis pela morte de João Roberto estavam muito longe dali, alguns desses responsáveis estão até mortos. A responsabilidade para a morte dele e de tantos outros homens e mulheres de bem é de um ciclo vicioso de governos que não souberam lidar com a criminalidade nos centros urbanos. E não só essa incompetência administrativa, também a corrupção suja da qual muitos e muitos participaram e participam, aceitando o dinheiro enlameado do tráfico de drogas e de armas para fazer vistas grossas aos negócios ilícitos. Uma sujeira que atinge todas as esferas do Poder Público, que, aliás, de Público tem cada vez menos, pois parecem que o que fazem, as ações que promovem estão cada vez mais voltadas para interesses próprios, a população é um mero fantoche. Um fantoche calado, programado para dizer sim.
É triste ver que não será uma tragédia como a morte de João Roberto e a clamor desesperado de seu pai que farão com que as coisas mudem. Muito precisará ser feito, por nós, cidadãos, para que isso mude. Pena que não serei eu, nem você quem verá a mudança.
Mas já será muito bom se o meu filho ou meu neto não tiver que um dia bradar pelos meios de comunicação a indignação pela morte de outro inocente.

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