A noite escura

A noite escura é vasta como sua escuridão. Estar dentro da noite escura é estar dentro de si, é ouvir como se o silêncio fosse algo a ser ouvido, por isso, calar ou falar, não importa. A noite escura nos brinda com a possibilidade de alternativas e todas são corretas.
Permanecer com os olhos cerrados, deixando as pálpebras à mostra, ou abrir bem os olhos, deixando as pupilas se dilatarem ao máximo não fará diferença: não se pode ver a pele fina, sensível da pálpebra, não há fio de luz que leve algum objeto ao fundo do cérebro. Nada será visto de qualquer maneira. A não ser os desenhos que se formam do lado de dentro do olho e que, por vezes, parece saltar para alcançar a escuridão à frente, dançando lentamente e com sofreguidão, pequenos girinos acinzentados que tomam a noite escura para si, nadam livres pelo denso do que não se vê.
Na noite escura, as esquinas são avenidas e as certezas deixam de ser. Na noite escura não há nada que comprove a vida a não ser o temor de não mais viver.
A noite escura surge quando quer, avança para dentro como o vento frio de inverno que irrompe a pele após passar pela fresta da porta fechada. Não há barreira e não há saída. A noite escura vem quando não se espera. E só parte quando se enxerga o Sol que nos sorri.

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