Vó Conceição

Pequena e serelepe, uma moça conservada sob um corpo de mulher madura. Palavras doces que só poderiam ser ditas por uma voz suave e fina, como era sua voz. Mas, às vezes, seu tom mudava, transformava-se na voz da mulher aguerrida, batalhadora e, acima de tudo, vencedora. Tudo para manter a ordem em seu palácio chamado "lar".
Um sorriso sincero e discreto sempre me aguardava quando chegava-me a ela, um abraço maternal e a benção. Caridosa, seus atos eram reflexo do amor e devoção que seu coração católico tinham por Jesus Cristo. Uma filha de Deus, uma filha que deixa seu Pai orgulhoso, sempre.
Uma mãe, uma avó. Minha avó. Aquela que me deixava tomar café preto quando eu era pequeno, que dizia sempre pra eu comer um pouco mais pra não ficar fraco. A mulher que me mostrou a delícia que era o bolo de cenoura com cobertura de chocolate.
Ah... que falta o mundo sentirá dela, mesmo que não saiba. Hoje, as pessoas amanhaceram com um gostinho amargo na boca, algo que não sabiam dizer do que, mas eu sei. É um pedaço de nossa alma que se isola e se entristece de saber que mais um ser querido deixou este plano. Minha alma está inteira amarga.
Mas isso não durará, ela diria que é preciso seguir e deixar nas mãos de Deus o nosso consolo. E é isso o que farei.
A última vez que a vi não foi quando estava internada já, foi um tempo atrás, quando ela me abençoou e disse que eu estaria sempre melhor, sempre melhor. Agora, ecoa em mim sua voz fina e suave, já fraca, com a eterna mensagem de bem-aventurança.
Despedir-me dela é um ato sem fim, pessoas imortais dentro de nossos corações nunca são passíveis de despedidas.
Agora, ela nos acompanha, ao lado de todos os anjos, ainda mais abençoada por Deus.

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