Sufocamentos
A chuva escorregava pelas paredes do prédio em frente, uma pequena avalanche que desaguava na cabeça de quem passava, bem pequeno, lá embaixo. Uma tempestade estava se aproximando da cidade, os temerosos corriam pelas calçadas e embaçavam os vidros dos ônibus dirigidos com pouco prudência pelos motoristas. Era meio de tarde e a chuva não podia conter o calor abafado que me fazia transpirar levemente pelos poros. Naquele dia resolvi não trabalhar afim de organizar meus poucos pertences para a mudança que faria. Ao passo que ia retirando as coisas de armários, gavetas, estantes, menos vontade eu tinha de fazer aquilo, mas era como fugir do irremediável e do irreparável, era preciso ir contra aquela sensação fria que me dominava a cada peça embrulhada em papel de jornal e posta em caixas de papelão. Para espantar este calafrio, ia cada vez com mais freqüência até a janela, espiar a chuva e fumar. Isso acalmava um pouco. Vendo aquela chuva cair na rua suja e vendo aquele céu cinza, com...