Dê as mãos para o erro e seja criativo

 



 Tenho tido conversas interessantes com meu amigo.

 Dia desses, estávamos novamente falando sobre criatividade, ele comentou que estava pensando em algo para o seu trabalho depois que conheceu um pouco mais sobre uma outra área, nada a ver com a dele. (lembra que no post passado falamos que a curiosidade é alimento do bichinho criativo?)

Eu não saberei explicar a ideia, mas a situação o colocou num processo de erro atrás de erro. Ele disse que ficou dias tentando e não ia, não dava certo. Uma ou duas vezes, quando tudo estava se encaminhando para o que queria. Puff. O bolo desandava e voltava pro zero. Perguntei se ele não era cobrado por errar tanto. Ele me olhou de um jeito estranho e pensou um pouco antes de me dizer:

"Quando eu fui contratado, disseram que a área precisava de soluções inovadoras porque os desafios eram grandes e do jeito que estava, não levaria muito tempo até terem um gargalo sem fim. Eu ouvi e disse que entendia. Olhei para as paredes e tinha um quadro com a foto de um deles segurando um prêmio e embaixo estava escrito RFT Award. Eu perguntei o que era aquele prêmio que tinha recebido, ele respondeu que foi um prêmio que recebeu em nome do departamento pois tinham sido, dentre todas as filiais, a que entregou os objetivos com o menor número de retrabalhos - RFT (Right First Time, seria Acertou de primeira).

Nessa hora eu pensei em dizer para eles que por causa daquele prêmio estávamos conversando naquele momento, mas achei que ia ser meio arrogante, acabei dizendo que se eles me contratassem, as chances de ganhar aquele prêmio novamente não seriam grandes - eles arregaralam os olhos e eu continuei - mas a chance de vocês ganharem outros prêmios e um bônus maior no fim do ano vai aumentar."

O que meu amigo quis dizer é que buscar Inovação e ser Criativo é um processo que anda de mãos dadas com o ERRO. Para se criar algo novo é preciso experimentar e não existe nenhum experimento que garanta exatidão. Desenvolver uma ideia criativa é um processo. Não é simples tentativa e erro também. 

Inserir criatividade em nossa vida, para qualquer ação, exige que saiamos da zona neutra. Por exemplo: Você sabe que preparar um brigadeiro exige leite condensado e achocolatado em pó e o resultado você também sabe qual é. Vai variar um pouco o sabor dependendo da marca dos ingredientes, do ponto de cozimento, mas não vai fugir muito do paladar que você sabe. Agora, se você quiser colocar pétalas de rosa ou sal do Himalaia. Vai ficar bom? Aí você faz e joga as rosas. No final das contas você percebe que fica bom, mas precisaria de mais rosas ou menos chocolate, enfim, há necessidade de ajuste. Esse, basicamente, é o processo criativo ou uma de suas facetas, pegar algo que existe e colocar outro elemento que, aparentemente não tem nada a ver, para formar algo novo! No caso do nosso brigadeiro, fazendo os ajustes necessários, chega-se a um sabor equilibrado e novo. Se for para uma doceria, pode tornar-se sucesso de vendas. 

Está certo que até chegar ao equilíbrio foi necessário usar mais leite condensado, mais achocolatado e a inclusão de rosas. O gasto foi maior. Só que o retorno depois de pronto foi infinitamente maior do que o gasto, a balança fica positiva e você vira referência no mercado.

E não é para se estranhar o temor que a grande maioria tem do erro que castra o pensamento crítico e inovador. Isso vem do modelo básico de educação escolar, onde o professor detém o conhecimento e repassa ao aluno que deve agir como um receptor daquilo e ponto. Se um aluno questiona a informação dada por um professor, é tido como rebelde, vai sofrer castigo ou até retaliação. Qual criança quer sofrer com isso? E as provas escolares são a materialização desse modelo. Existe certo e errado, conforme assinalado no livro do professor. Se o aluno não escreve conforme está no livro, está errado - no máximo, meio certo - e esse modelo não dá a menor brecha para a criança desenvolver o seu próprio pensamento acerca de um assunto. Esse modelo vai seguindo nos anos escolares, vestibular, faculdade.

Formado, o agora adulto, entra numa empresa e o processo continua. O chefe é o novo professor, detentor do conhecimento e o funcionário executor de ordens.

De repente (nem tanto), as empresas perceberam que o mundo não era mais o mesmo de séculos atrás e precisa ser diferente também. O CEO chega pro chefe e fala que ele precisa fazer diferente. O chefe vai pro funcionário e diz que precisa fazer diferente.

Num esforço grande, o funcionário pensa, pensa, pensa e faz algo diferente que não dá certo. O chefe reclama, vê incompetência e o demite. Por sorte, ele encontra uma empresa que tem uma cultura diferente, que percebe a necessidade do ERRO para haver AVANÇO. E ele erra e avança. Torna-se líder de mercado e o chefe antigo ainda busca um troféu RFT.

Quebrar o paradigma de CERTO e ERRADO é um dos passos essenciais para viver uma vida criativa e inovadora. Veja cada tentativa que não gerou o resultado esperado como UMA TENTATIVA. Esteja atento ao processo para identificar onde pode ser mudado e tente novamente. E tente novamente. E tente novamente.

Thomas Edison, inventor da lâmpada, antes de ter êxito em fazer um filamento de metal esquentar a ponto de gerar luz e não se partir, teve que fazer o experimento 1.200 vezes. Perguntado sobre como se sentia tendo 1.200 fracassos, ele disse que não fracassou, apenas descobriu 1.200 maneiras de não fazer uma lâmpada funcionar e a cada tentativa, ele estava mais próximo de achar a melhor solução.

Ser criativo é ampliar a perspectiva de ACERTO e ERRO. Um não é o oposto do outro, eles se complementam.

Vamos encarar a vida dessa forma também? Nos posicionar e nos colocar em situação de vulnerabilidade é estar disposto a encarar o erro como ferramenta de construção. A assistente social, Brené Brown tem uma palestra TED Talks poderosa sobre esse tema e livros também. Vou deixar aqui um deles que recomendo para que você que sabe que pode mais, mas que teme não acertar.


Comentários

Tha Monttiel disse…
Excelente post, parabéns!

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