A dança prometida

As notas agudas da guitarra tocando as paredes alcochoadas e verdes da sala retangular para depois ecoarem em meus ouvidos. Uma música conhecida e antiga, vinha de antes do meu nascer, talvez isso fizesse o palpitar diferente do meu coração.
Queria que meu corpo tivesse a liberdade que tem as linhas melódicas da música que toca ininterruptamente, que meu corpo pudesse deslizar pelo ar como as tônicas e semi-tônicas, queria percorrer o mundo como os dedos ágeis percorrem a escala maior de todos os instrumentos de corda que existem.
As luzes coloridas chocando-se contra meu rosto, fazendo meus olhos arderem e cerrarem. As luzes e as fumaças que também dançam. Todos dançam exceto eu. Meu corpo não dança e minha cabeça o acompanha. Toco meus braços, os poucos pelos são difíceis de se ver na penumbra, ainda assim os vejo. Sou um homem solitário que busca em tempos perdidos a alegria de um homem que existe no fundo dos meus olhos devaneios enquanto me observo no espelho.
Querer ser outra pessoa é menos doentio que tentar ser outra pessoa. Vivo perambulando nessa corda bamba sem saber se há um fim e, ainda assim, esperando pelos aplausos da platéia. Aqui, todos dançam e eu vejo que olhos cruzam pelos meus e por outros. A Vida é assim mesmo, não existe exclusividade.

Três, dois, um... FOGOS!!

Pego o carro e ando pelas ruas vazias da cidade festiva,
gritos ecoam como sons agudos de uma guitarra
de um música mais antiga que eu.
É novo de novo, o ano que chegou.

Sinto uma mão tocar levemente a minha,
ao meu lado um sorriso displicente
feito uma promessa infantil.

Os semáforos estão verdes
a estrada é longa e tortuosa,
o tempo é curto, sempre curto.

Mas eu gosto mesmo assim,
dá uma sensação de liberdade.

E dá vontade de fazer o corpo dançar.

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