Tempos Modernos

Estava há algum tempo com aquela música na cabeça "Eu vejo um novo começo de Era..." e quando ela invadia sua cabeça, tentava saber qual o motivo daquilo. Pois, para ele, tudo havia motivo para acontecer, tudo era o indício de um SINAL. Ele gostava da música, era positiva. O sinal era bom, então. Isso era bastante para que se abrisse um sorriso em seu rosto.
Não dividia com ninguém as suas teorias, achava que poderiam rir dele, dizer que estava louco. Como se isso realmente fizesse diferença... "vamos nos permirtir.". Para ele fazia, não falava. Assim, deixava seu silêncio invadir os seus passos e seus contatos, que eram poucos. Na roda de amigos, enquanto falavam, gesticulavam, brincavam, ele sorria, da maneira mais amistosa, guardando pra si tudo o que sentia e sabia, olhava para os olhares e ouvia as frases buscando nelas também o sinal, o significado.
Outro dia ele encontrou uma menina muito bonita, se apaixonou e continuou calado. Mas sorriu o sorriso mais limpo-claro-aberto-sincero que sua boca e seu corpo inteiro poderiam dar. Ela entendeu, porque também achava sinais nas coisas, eles deram as mãos e foram caminhar para o fim da tarde.
"Eu quero crer no amor numa boa, que isso valha pra qualquer pessoa."
Durante tempos eles se trocavam sorrisos, carinhos e abraços. Palavras eram poucas, às vezes porque faltavam, outras, porque não eram necessárias. Assim, tudo parecia fluir para aquilo que todos querem: um oceano cheio de alegria, amor e compreensão. Para se chegar ao mar, é preciso percorrer córregos e rios. E numa das curvas de um dos rios que iriam dar no mar, bem pertinho do oceano, numa destas curvas, o sorriso começou a ser demais.
O silêncio começou a ser demais. Eles se olhavam encabulados, como se não se conhecessem mais. A música vinha com mais força, deixava de ser sinal e se tornava algo concreto, o quê?Numa noite dessas, antes de dormir, ele juntou forte as duas mãos, olhou para o teto de seu quarto e buscou Deus, com muita vontade, com muita fé (?), pedindo que Ele dissesse enfim, de uma vez por todas, o que significava tudo aquilo. Que fosse mais claro, pois sua inteligência não era suficiente para saber o que era o que precisava saber. Uma indicação para o caminho que o levasse ao fim, ou ao começo, de tudo aquilo. Um sentido para seus pensamentos, suas ações. Seus desejos. Acabou dormindo e sonhou com uma sala cheia de espelhos, em cada espelho sua imagem refletida, de formas diferentes, sentiu solidão naquele sonho, era solitário andar somente por si. Acordou e achou ter entendido.
Olhou para o teto e agradeceu.
"Hoje o tempo voa, amor, escorre pelas mãos."
Saiu corrido de casa, ia tocar a campainha quando a viu abrir o portão do prédio. Trocaram olhar e sorriso, ele disse que tinha entendido e que precisava falar. Ela disse que estava com pressa e que não sabia quando voltava. "Posso te acompanhar?", ele pediu. Ela suspirou, tentou dizer que não dava, que havia muitas curvas no caminho e a caminhada era longa. "A caminhada é longa.", ele disse. Ela disse que sim. Ele disse que era melhor irem andando, então, para que não ficasse muito tarde.Ela não entendeu aquilo, mas disse que sim.
Andaram até o nascer de uma nova manhã, quando a música parou de tocar.

Comentários

Unknown disse…
Oi!
Estava com saudades dos seus pensamentos.
Obrigada pelo retorno.
Bj

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