Como se a escuridão da sala apagada pudesse esconder de si mesmo o bater do próprio coração, permanecia calado, sentado na poltrona, imóvel tal qual uma estátua de cem anos. O único sinal de vida fora de seu pensamento eram os zumbidos de carros cruzando a avenida por trás da janela. Lembrando-se dela, virou-se. A cortina cerrada não permitia-lhe enxergar a noite de ventos frios que havia lá fora. Mais um zumbido de carro, tocou o próprio pulso, quatro da manhã. Um cansaço pesou-lhe os ombros, levantou-se com dificuldade e foi até a sacada. Dez minutos passados, ele olhando para o conjunto de janelas apagadas do outro lado da rua, os postes de luz acessos transbordavam uma luz amarelada e velha nas calçadas varridas pelo vento incessante, tocou-se no rosto, o frio das mãos contra o frio do rosto. A ponta do nariz parecia ter caído, a fumaça do cigarro confundindo-se com o ar condensado da boca. Ouviu, então, um estalido vindo da outra sacada, seus olhos se cruzaram com os olhos da vi...