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Mostrando postagens de outubro, 2008

Halloween

Se seu semblante fosse sincero, Não sentiria assim a sua sombra, Um temor sinistro de peito aberto, Feito bote incerto de uma cobra. Se esse espelho fosse sincero E refletisse apenas o que deve Seria minha alma pura, tão pura Alva como sonhos em neve. Só que tudo se desfaz em desanimada alegoria, O boêmio desencantado com o raiar do dia, As esquinas poluídas, as meninas mal vestidas, Nada sendo aquilo que se queria. O falso poeta trova sua triste rima Tentando alcançar no auge do desespero O sonho perdido, o pensar traiçoeiro Que o fez deixar esse espelho sincero Um objeto envolto em penumbra.

Memento Mori

O texto a seguir é uma livre tradução que fiz do conto "Memento Mori", que inspirou o roteiro do filme Amnésia de Christopher Nolan. O texto original é de autoria de Jonathan Nolan, irmão do diretor do filme. A reprodução total ou parcial deste texto é permitida desde que seja citada a fonte. Memento Mori 1 "What like a bullet can undeceive!" - Herman Melville Sua esposa sempre costumava dizer "você se atrasaria até para seu próprio funeral". Lembra-se disso? Suas piadinhas por você ter sido tão lesado - sempre atrasado, sempre esquecendo coisas, mesmo antes do incidente. Você deve estar imaginando se, neste exato momento, não está atrasado para o funeral dela. Você esteve lá, você tem certeza disto. Esta é a cena a saber - o tal grudado na parede perto da porta. Não é comum tirar fotos num funeral, mas alguém, seus médicos, EU suponho, sabiam que você não se lembraria. Eles fizeram a coisa direitinho e parara...

Sem Maria

Não sei quanto tempo fazia que estava ali, sei que quando despertei daquele torpor meu corpo estava adormecido ainda, não conseguia mexer braços nem pernas. Por isso, permaneci naquela posição e adormeci. Já era a terceira noite seguida que isso acontecia. Depois que Maria fugiu as coisas perderam o sentido, eu perdi o sentido também. Dormia mais que acordava. Fome, não sentia. Sede, a saliva me satisfazia. Sem Maria, o apartamento não era o mesmo, a falta do seu barulho me doía os ouvidos, não havia mais ela vindo pelo corredor com seu andar calculado e fino, me hipnotizava cada passo que dava em minha direção. Longos dias eram aqueles sem Maria, o Sol e a Lua pareciam se arrastar, assim como minha ação involuntária de respirar. Não deveria ser assim, estivemos juntos pelo tempo suficiente para que eu quisesse dela a companhia até a hora de morrer e ela me abandonou, saiu não sei por onde, não sei com quem. Quando ouço algum mínimo barulho no corredor, fico atento com a esperança d...