Fluxo e consciência I
Botar uma música suave no rádio, esquecer dos outros carros, das outras pessoas, dos outros Universos e deixar tudo fluir, dentro e fora, como fosse um pedaço de madeira boiando e viajando pelos caminhos desconhecidos de um rio e acabar preso na terra barrenta de sua margem num ponto qualquer e desconhecido do mundo. Ficar ali, ver a noite, o dia, os animais que chegam para beber da água do rio e partem para outros lugares, ser Sol e ser chuva, ao léu e à sorte. Molhar e secar, dia-a-dia e ir definhando lentamente, perdendo fibras devoradas pelos insetos e pelos micróbios e por tudo o mais que é bem pequeno e necessita também se alimentar. Seco e molhado, um pedaço de madeira que vai cedendo ao tempo até deixar de ser. Trágico fim de um graveto: perdido e só. Mas, no carro, ouvindo a música suave, deixando que flua dentro e fora as coisas que devem fluir, como se a pele e os ossos não servissem mais de barreira para o que habita e o que circunda, esquecer o mundo para se tornar parte ...